segunda-feira, 25 de junho de 2012

No centenário de Jorge Amado, ‘Tieta’ está volta

A Globo Marcas homenageia os cem anos de Jorge Amado trazendo de volta uma das novelas de maior sucesso da televisão brasileira: ‘Tieta’, exibida na Rede Globo em 1989. Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, a novela é baseada no romance “Tieta do Agreste”, uma das obras mais famosas do saudoso escritor baiano. Em uma caixa com 11 discos e quase 40 horas de duração, ‘Tieta’ narra a saga da personagem-título, magistralmente interpretada por Betty Faria, que é escorraçada de sua cidade natal pelo pai, influenciado por intrigas de sua irmã mais velha, e retorna à Santana do Agreste muitos anos depois para se vingar.

O DVD traz um depoimento exclusivo de Aguinaldo Silva, em que revela que o maior elogio que recebeu por transformar o livro em um sucesso na TV foi uma carta datilografada pelo próprio Jorge Amado, que dizia: “Parabéns e muito obrigado por ter honrado o meu romance com sua tenerosa, terna, pungente e alegre recriação”. “Isso é o que Jorge Amado achou de Tieta e, para mim, foi o maior elogio que poderia ter merecido. Transformar romance em novela é um problema sério, porque você tem que criar tramas que levem esta história a durar, pelo menos, 180 capítulos. Ao mesmo tempo em que exige uma absoluta fidelidade à obra original, exige também uma recriação. Quando comecei a ler o livro, pensei: meu Deus, isso dá no máximo uma minissérie de 30 capítulos. E comecei a fazer anotações sobre personagens que no livro eram apenas citados, mas aos quais eu podia dar “carne e osso”, dar história e trama”, explica o autor.

Ricardo Linhares, que fazia sua estreia como coautor em novelas, relembra o trabalho com carinho e comenta como era a rotina ao lado de Aguinaldo e Ana Maria Moretzsohn. “Nós nos reuníamos toda segunda-feira à tarde e Aguinaldo levava um pequeno gravador. Ele dizia que às vezes era até difícil separar o que foi dito, já que ríamos muito, misturávamos os assuntos, era o caos. Um caos bastante criativo”, analisa.

Já a autora Ana Maria Moretzsohn conta que “Tieta” foi a primeira de algumas parcerias com Aguinaldo e Linhares.  “Era uma grande alegria escrever com eles. A gente se divertia muito. “Tieta” era gostosa de escrever e de ver. Ficou uma enorme saudade dessa  fase dourada e de Paulo Ubiratan, também nosso parceiro."

Bordões de diversos personagens caíram no gosto popular e até hoje, mais de vinte anos depois de sua exibição, ainda estão presentes no imaginário dos telespectadores como “Mistéééééério” (Dona Milu), “Nos trinques! (Timóteo)”, “Upa Lá Lá” (Modesto Pires) e “Techau!” (Tonha).

O ponto de partida da história começa quando, 25 anos depois de ser escorraçada da cidade pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos), Tieta (Betty Faria) reaparece em Santana do Agreste, rica e exuberante, justamente no dia em que rezavam uma missa em homenagem a sua memória. Sua chegada à cidade transforma a vida dos moradores. Disposta a se vingar de quem a maltratou, ela diz que veio para ficar, vive um tórrido romance com o sobrinho e seminarista Ricardo (Cássio Gabus Mendes), filho de sua rancorosa irmã, Perpétua (Joana Fomm).

A atuação de Joana Fomm fez da traiçoeira beata Perpétua uma das personagens preferidas do público. Extremamente conservadora e sempre de luto, ela guardava no armário uma misteriosa caixa branca. O autor Aguinaldo Silva se diverte com a curiosidade que o conteúdo da caixa gerou nos telespectadores. “A caixa da Perpétua existia no livro, mas não tinha a importância que ela acabou assumindo na novela. Por alguma razão, as pessoas começaram a achar que o que havia na caixa era um vestígio do ex-marido dela, mas isso nunca foi dito na novela. O engraçado é que hoje em dia as pessoas não só acham que foi isso, como juram que eu disse isso na novela. Agora, com o DVD, as pessoas vão ter a oportunidade de ver que eu não disse em nenhum momento. A novela terminou sem que a gente soubesse o que existia dentro da caixa da Perpétua”, diverte-se o autor.

Exibida em 1989, ano em que o povo brasileiro retomaria o direito de escolher o novo presidente por voto direto após quase 30 anos, ‘Tieta’ tratou de temas como hipocrisia, vingança, amor e progresso. Aguinaldo ressalta que sua intenção foi fazer uma metáfora sobre a volta da liberdade de expressão na novela brasileira. No capítulo em que Tieta (interpretada por Claudia Ohana na primeira fase) é expulsa de casa pelo pai, ele arranca aquele dia do calendário e diz: “Faz de conta que esse dia nunca aconteceu”. O dia marcado na folhinha é 13 de dezembro de 1968, exatamente a data em que foi promulgado o AI-5.

Nordestino, Aguinaldo trouxe referências de sua cidade Carpina, localizada no interior de Pernambuco, para a fictícia Santana do Agreste, palco da trama. Foi o caso da anônima Mulher de Branco, uma assombração que vaga pela cidade e ataca os homens que, por se sentirem enfeitiçados pela misteriosa mulher, mantêm segredo sobre sua identidade. “Uma coisa muito engraçada é que no livro de Jorge Amado tem o personagem, que é uma lenda em Santana do Agreste. Por incrível que pareça, quando eu era criança em Carpina, também existia a mesma lenda”.

A novela traz para o público um enredo divertido que valoriza a cultura nordestina, muitas reviravoltas e personagens marcantes e caricatos que deram o tom à trama. Reginaldo Faria interpretava o empresário Ascânio Trindade, cujo objetivo era  levar a modernização e progresso para a cidade; Ary Fontoura, na pele do coronel Artur da Tapitanga, dava abrigo e comida às “rolinhas”; Lilia Cabral e Rosane Gofman eram as beatas Amorzinho e Cinira, fiéis escudeiras da viúva Perpétua; o personagem de José Mayer era Osnar, ex-amante de Tieta e o maior conquistador da cidade; Paulo Betti, como Timóteo, gostava que tudo estivesse sempre “nos trinques” enquanto sua esposa Elisa (Tássia Camargo) tinha sonhos românticos com Tarcísio Meira, chegando a preparar um enxoval para um possível encontro com o ídolo.

No figurino prevaleciam roupas de algodão e modelagem muito simples. Com exceção de Tieta, cujo guarda-roupa exuberante era marcado por cores fortes, brilho, peças justas e saltos bem altos. Já Perpétua foi definida pela figurinista Helena Gastal como a Mary Poppins do Cangaço com seu vestido preto, sapato abotinado e sempre de guarda-chuva à mão. A história foi ambientada na cidade cenográfica de Santana do Agreste, construída em uma área de 10 mil metros quadrados em Guaratiba, na zona Oeste do Rio de Janeiro, com 46 prédios, duas igrejas, oito ruas, duas praças, um grande circo abandonado e 15 ruínas.

Essa é a sexta novela lançada em DVD pela Globo Marcas. As anteriores são ‘Roque Santeiro’, ‘Irmãos Coragem’, ‘Dancing Days’, ‘O Astro’ e ‘Escrava Isaura’.

(Informações da Assessoria de Imprensa)

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