Ficou de fora também – por razões mais compreensíveis ainda – “Tô doidão”, que Rossi gravou no começo de sua carreira, quando ainda oscilava entre a engenharia civil e a música, e era inspirado pela Jovem Guarda e o iê iê iê. “Tô doidão, bicho, tô doidão/Porque roubaram minha mina dentro do salão”, cantava ele, na sua fase rock and roll, quando integrou o grupo The Silver Jets. Esse período, porém, não tem muito registro junto ao respeitável público. O Reginaldo Rossi que a massa conhece é aquele que, no começo dos anos 70, em pleno “milagre econômico” e no auge da ditadura militar, deu uma virada rumo ao estilo romântico popular – também conhecido como brega – e de lá nunca mais voltou. Fez bem. Em quarenta e tantos anos de carreira, foram mais de 50 discos (entre inéditos, coletâneas e registros ao vivo), boa parte deles transformados em ouro.
É esse ícone do lado B da MPB que surge, aos primeiros acordes de “Bregatom”, o tema de abertura do DVD, numa plataforma giratória, sentado em uma poltrona de veludo, cercado por duas beldades. O cenário – que lembra uma boate ou um inferninho, com mesas, cadeiras e cortinas vermelhas ao fundo – se explica na primeira música do show, “Boate azul”, na qual ele entoa sua apresentação: “Doente de amor procurei remédio na vida noturna/Com a flor da noite em uma boate azul aqui da zona sul”. Como Lou Reed, Reginaldo Rossi também circulou muito pelo “wild side”. Cada um na sua, claro.
O que se segue são alguns dos hits que marcaram a carreira desse recifense, admirador de Albert Einstein, Ray Charles e Mozart. Lá estão, num engarrafamento de sucessos, “Dama de vermelho”, “Leviana”, “Ombro amigo” e “Meu fracasso”, além das inéditas “Dor de corno” (“Fui o primeiro homem no mundo a me declarar corno apaixonado”, brinca ele), e “Senha”. De acordo com Rossi, - que é acompanhado no show por sete músicos e três vocalistas - são canções variadas, adaptadas à sua maneira. Ou seja, numa levada que fica entre o bolero rasgado, o country e até mesmo o samba.
Aparentemente penetras no “Cabaret do Rossi”, músicas como “Amor I love you (de Marisa Monte e Carlinhos Brown) e “Have you ever seen the rain” (do grupo americano Creedence Clearwater Revival) também surgem “adaptadas” ao universo de Rossi. “Como foi a Marisa que gravou, não é brega. Então, eu vou bregar”, diz ele sobre “Amor I love you”. Mas a graça mesmo do “Cabaret” fica para sua regravação de “I will survive”, tema “disco” de Gloria Gaynor, que se transformou num hino gay. No show, ela ganha uma espécie de “tradução simultânea” do astro: “Quando terminou, fiquei petrificado/Pois eu pensei que nunca mais ia poder viver sem meu bofe”. Brincadeira de um simpatizante, que está tão longe da entediante cartilha do politicamente correto quanto do machismo homofóbico. Afinal, ele mesmo se assumiu musicalmente e saiu do armário faz tempo: “Sou popular, brega mesmo. Não sei falar com o público por metáforas. Vou direto ao assunto”. Melhor assim. No “Cabaret do Rossi”, todas as misturas são permitidas.
(Informações da Assessoria de Imprensa)
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